Numa cidade de 441 anos, que já foi capital do Império e da República, não falta história. Nem construções para contá-la. Os casarões antigos que se espalham pelo Rio trazem em sua arquitetura vestígios da estética e dos hábitos de outros séculos e guardam importância comercial capaz de influenciar o preço e a liquidez de imóveis vizinhos.
— Prédios mal conservados têm partes podres, são feios e estão sujeitos a invasões. Quando restaurados, podem valorizar o entorno de 10% a 15% e aumentam a velocidade de venda dos imóveis próximos — avalia Rubem Vasconcelos, dono da Patrimóvel.
Em Laranjeiras, a restauração, em 2004, das Casas Casadas — um casarão de 1885 que foi abandonado por anos — revitalizou a Rua Leite Leal, onde estão localizadas. Segundo a jornalista Larissa Mendes, que acompanhou da janela a reforma, o novo prédio — sede da Riofilme — é um presente para o bairro:
— Comprei meu apartamento há seis anos por R$170 mil. Fiz algumas reformas nele e hoje em dia sei que não vale menos que R$300 mil. Parte da valorização se deve ao visual de nossa janela: árvores e um imóvel lindo.
Imóveis ficaram 70% mais caros na Lapa
Na Lapa, a restauração de casarões antigos fez aumentar o movimento noturno do local e o valor de mercado dos imóveis das ruas principais. Para o presidente da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi), George Masset, a reação em cadeia é o que mais favorece os bairros.
— Na Rua dos Inválidos, vários botequins foram reformados e viraram casas noturnas. Alguém dá o primeiro passo e puxa os demais — analisa. — A valorização no local foi superior a 70%. Eram imóveis que ninguém conseguia vender. Hoje em dia, não se vê lojas fechadas e o comércio local dá lucro.
‘Resgate que tem valor inestimável’
Em Santa Teresa, as ruínas da antiga residência de Laurinda Santos Lobo são hoje em dia ponto turístico e cultural. Quem acompanhou o desenvolvimento do bairro lembra da mudança:
— Era uma casa abandonada, em que havia tráfico de drogas. As pessoas que moravam perto queriam se mudar. Agora que a casa virou um mirante, querem ficar perto — diz Magda Hruza Alqueres, consultora jurídica da Associação Brasileira de Mutuários da Habitação (ABMH) no Rio.
A apropriação de imóveis históricos para abrigar espaços culturais, longe de ser aleatória, é sempre celebrada pelo secretário das Culturas, Ricardo Macieira. A dois meses de inaugurar o Centro de Referência da Música Carioca num casarão da década de 20, na Tijuca, e de iniciar a restauração do prédio da Automóvel Clube, na Lapa — que abrigará a Biblioteca Central do Município —, ele fala sobre o incalculável valor da restauração.
— Recuperar imóvel antigo muitas vezes é mais caro do que construir um novo. Mas resgatar a memória arquitetônica e histórica da cidade tem valor inestimável.