A nova leva de empreendimentos voltados para a classe média baixa conta com o apoio da tecnologia: na maioria desses lançamentos, vigas e pilares são substituídos pela alvenaria estrutural. O sistema construtivo, imperceptível para os compradores dos imóveis, apresenta limitações para a realização futura de reformas. Mas reduz os custos em cerca de 25%.
João Paulo Matos, diretor da Carmo e Calçada, lembra que nos empreendimentos de alto padrão, normalmente há várias opções de plantas e acabamentos à escolha do comprador. É o que acontece no Monet, na Barra da Tijuca, exemplifica ele. Em regiões onde a renda da população é mais baixa, os imóveis não podem ser adaptados porque são feitos em módulos.
— As plantas não permitem derrubar paredes e aumentar o espaço de um ou outro ambiente porque é importante produzir em escala. Se o produto fica caro demais, as pessoas não conseguem comprar — diz Matos, que tem também lançamentos no Méier.
Com a aplicação de alternativas mais econômicas, a redução das despesas durante a construção do empreendimento chega a 30% quando comparada à de um imóvel em áreas mais nobres. Foi o que conseguiram as construtoras Concal e RJZ/Cyrela, que lançaram recentemente o Paço Real, em São Cristóvão.
— Na Zona Sul, o céu é o limite. A estrutura da planta permite aumentar quartos e criar novos cômodos dentro do apartamento, como no projeto Conde du Lac, na Lagoa. Já no Paço Real, em São Cristóvão, não é possível. Mas há grande preocupação com a durabilidade dos acabamentos — ressalta Rodrigo Caldas, vice-presidente da Concal.
Nas áreas internas dos prédios, os materiais escolhidos também variam de acordo com o público-alvo: a cabine dos elevadores, por exemplo, podem ser de placas de aço inox, de alto custo, ou de fórmica, bem mais em conta.
Para executivo do Crea-RJ, falta criatividade nos projetos
Além de serem mais compactos que os similares próximos à praia, os apartamentos para a classe média baixa também têm variações nos materiais usados nos cômodos, ressalta Edson Henrique Pereira, diretor da construtora Zayd:
— É evidente que buscamos especificações mais baratas. Dentro dos apartamentos, o revestimento cerâmico das cozinhas e dos banheiros, assim como as louças e metais, são de linhas econômicas, embora sejam de marcas conhecidas.
Seja na Zona Sul ou Norte, para Canagé Vilhena, assessor da presidência do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio de Janeiro (Crea-RJ), falta ousadia dos empreendedores em seus projetos. Mas ele mesmo justifica: os padrões muitas vezes são determinados pela legislação.
— Há gabaritos, recuos de fachada, entre outras normas, que precisam ser obedecidas. Mesmo assim, há espaço para a criatividade — diz Vilhena.
Flávio Ramos, diretor da Klabin Segall, diz que a construtora procura fugir da mesmice. Ele cita como exemplo o empreendimento Cores da Lapa, com fachadas coloridas e prédios com diferentes alturas:
— Muitas vezes, o escritório de arquitetura que faz o projeto do prédio é um e o que faz a fachada é outro, numa tentativa de dar oportunidade a gente jovem para inovar.