
Com a revitalização da Zona Portuária, a cidade está descobrindo um novo reduto de ateliês: o Morro da Conceição, na Saúde. As ladeiras e becos centenários, localizados no coração da cidade, receberam, em dezembro último, cerca de 3,5 mil visitantes em três dias, quando aconteceu a quarta edição do Projeto Mauá, nos mesmos moldes do Santa Teresa de Portas Abertas. Criado em 2001, o circuito informal para venda, sem intermediários, de telas e outros objetos de arte para decoração da casa, cresceu e apareceu.

A maioria dos ateliês está na Ladeira João Homem. A primeira parada é no Vila Olívia, de Marcelo Frazão. Dentro do casarão de dois andares, o visitante vai encontrar gravuras e esculturas, mas principalmente pinturas, enriquecidas por trançados de sisal, rendas, lâminas de cobre, folhas de ouro. Ele ainda resgata técnicas medievais como a encáustica e a têmpera. Pertinho dali, fica o sobrado do escultor (e um pouco pintor) Claudio Aun, que tem como referência o surrealismo. O bronze é o material de sua preferência, mas ele trabalha também com outros metais, mármore e resina, e, por vezes, cria peças de técnica mista.

Movimento e contraste das cores garantindo vibração

Mais adiante, a vibração das cores e do movimento põe em destaque gatos, mulheres, músicos, igrejas e cata-ventos, pintados em séries pelo expressionista Paulo Dallier. A cor também é fundamental na pintura de Helenice Dornelles, que capta a impressão produzida por cenas e formas da natureza, baseando-se em contrastes. Além de óleo sobre tela e acrílica sobre papel, a artista pinta cerâmicas e faz tapeçarias.
Pesquisador de processos pictóricos, tal como um alquimista, Renato Sant’Ana, por sua vez, faz experiências: sua pintura abstrata é feita sobre folha de policarbonato, uma espécie de plástico bem resistente e transparente, ou sem suporte — as obras podem ser aplicadas em diferentes superfícies. Seu casarão, com uma invejável vista para a Baía de Guanabara do terraço, é um passeio à parte.