A competição entre construtoras pelo cliente de classe média baixa já começa a ser sentida nos preços. De janeiro de 2006 a janeiro de 2007, o preço do metro quadrado, que era de R$2,3 mil, caiu a R$1,7 mil. Os donos das empresas que já atuavam no mercado de baixa renda garantem que a entrada de nomes de peso nesse mercado não assusta. Há espaço para todos, dizem.
Segundo eles, as perspectivas são de que o Brasil repita o sucesso do mercado imobiliário mexicano. Depois da grave crise econômica de 1995 — que fez secar os investimentos no setor de alto padrão — as principais construtoras do país passaram a investir na baixa renda. Juro em queda e política econômica austera permitiram financiamentos longos e mais baratos.
— Hoje, o Brasil todo faz menos de 300 mil moradias/ano. O México faz um milhão, com a metade da população. Ou seja, há espaço para todos. Mesmo que a gente cresça 100%, não vamos suprir a demanda — diz o presidente da Tenda, Henrique Alves Pinto.
A Tenda, construtora mineira que de mansinho está conquistando espaço no Estado do Rio, trabalha com projetos de casas e apartamentos padronizados, na faixa de R$65 mil.
— Estamos focados na baixa renda há dez anos, com equipes de arquitetos e vendedores próprios, lojas no Centro do Rio, em Botafogo e no Centro de Niterói. Só no Grande Rio, vamos lançar três mil unidades até o meio do ano. Confiamos na nossa expertise — diz Alves Pinto.
Uma das maiores empreendedoras de lançamentos para a classe C na década de 90, a Rossi Residencial passou a competir, nos últimos anos, também no mercado de alto padrão. Agora, seus interesses retornam ao segmento de origem. E até foi criada uma diretoria específica para isso, que já identificou terrenos na Baixada Fluminense, Zona Oeste e periferia de Niterói.
— A Rossi vai se posicionar no mercado de baixa renda a partir do segundo semestre. Com lançamentos também para as classes D e E, que compra imóvel na faixa de R$60 mil, e praticamente não está sendo atendida. A maior parte dos novos empreendimentos destinam-se à classe C — afirma Marco Adnet, diretor da Rossi.
Moradia popular vem crescendo 60% ao ano
Outra mineira que investe no Rio desde 2000, a Direcional, apesar de especializada em imóveis de luxo, passou a trabalhar também para a classe média baixa há cinco anos, com lançamentos recentes em Vila Valqueire e Freguesia. A empresa já tem outra marca — a ACR Engenharia — para construir prédios mais populares. Mas, diz o diretor comercial, Ricardo Gontijo Filho, a bandeira só vem sendo utilizada para os empreendimentos que chama de super-econômicos, com unidades na faixa de R$80 mil.
— É que estamos investindo em grandes empreendimentos que, apesar das unidades custarem R$150 mil, têm ampla infra-estrutura de lazer, ou seja, o mesmo padrão que os prédios de luxo. E a ACR não tem porte financeiro para isso.
O fato é que o mercado de moradia popular tem crescido 60% ao ano. Segundo analistas, em 2006 o setor movimentou R$12 bilhões, o que deve subir a R$18 bilhões em 2007. Além do notório déficit habitacional, a criação de um ambiente menos inóspito para o investimento — leis que facilitam a retomada do imóvel e pacote que destina recursos do FGTS ao financiamento popular — é uma das razões desse potencial.
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