
Se o conceito de casa futurística que permeia o seu imaginário tem uma cara robótica, prateada e cheia de estruturas metalizadas, esqueça. Volte para o mundo real porque, do ponto de vista da arquitetura, o futuro é muito menos ilusório, ainda que imerso em um universo ‘hi-tech’.
Dentro desse contexto, o vidro é visto como a grande aposta dos sistemas construtivos modernos. As casas nos centros urbanos também tendem a encolher, como acontece com os aparelhos eletroeletrônicos. Devem ficar mais compactas e mais eficientes, como se elas pudessem ser transportadas ao bel-prazer. E muitas delas o serão de fato.
A casa do futuro será mais flexível. Os ambientes internos devem ser cada vez mais integrados, com menos divisórias, de modo a aproximar mais os moradores, no contrafluxo do que a tecnologia vem ocasionando. “A flexibilidade é super importante. Assim como a tecnologia, a casa também deve estar toda integrada. As pessoas precisam se encontrar mais, enquanto que a tecnologia as separam”, afirma a vice-presidente da Asbea, Betty Birger.
Na previsão da arquiteta, os cômodos da casa se tornarão multiuso. Ela afirma que parte dessas transformações já é visível hoje e que elas devem se consolidar com o passar dos anos. “Os ambientes da casa já estão ficando mais integrados. Hoje, você pode fazer tudo em qualquer lugar. O que era importante já não é mais. O escritório não tem mais tanta utilidade. O banheiro não precisa ficar totalmente fechado, a pia pode ficar do lado de fora. A cozinha faz parte da sala”, exemplifica.
As residências de dimensões mais privilegiadas, conta Betty, devem explorar a natureza como pano de fundo. “A casa não pode estar em cima da colina, mas dentro da colina”, diz. A utilização de matérias-primas recicladas, como madeira de reflorestamento ou demolição, deve crescer gradualmente, e grandes aberturas de luz e ventilação serão agregadas aos novos projetos. “Essa comunicação com a natureza é imprescindível”, completa a arquiteta.
Contraponto
Para o engenheiro e coordenador do Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e urbanismo da USP, Ualfrido Del Carlo, a distribuição dos ambientes internos caminha em sentido oposto ao apresentado pela arquiteta. Como a tendência mundial é morar retirado, diz ele, as pessoas tendem a individualizar seus espaços. “Basta ver pelo estilo loft, que é um espaço todo aberto e não pegou em São Paulo. Isso também faz parte da cultura brasileira. Acho que a tendência é ter um apartamento dentro da própria casa.”
Del Carlo afirma que é a disseminação e a produção em escala industrial de projetos arquitetônicos personalizados que irá delinear o que virá a ser a casa das próximas décadas.
Embora seja um pouco mais reservado nas suas projeções, “o futuro próximo, eu vislumbro; o mais longínquo, não dá para prever”. O ex-professor da FAU-USP acredita na utilização de fibras de carbono na construção civil moderna, quando acabarem as patentes, e o material se tornar mais acessível. “Por enquanto, ele é caríssimo, mas acredito que será uma boa opção”, afirma.
E a previsão do engenheiro é baseada em fundamentos convincentes. “A fibra de carbono é um material espetacular, resistente, isolante e que não pega fogo”, finaliza Del Carlo.