Três bulevares para maior circulação, com calçadas largas, onde haveria prédios de uso misto com, no máximo, oito pavimentos, que abrigariam comércio e serviços nos dois primeiros andares e, nos outros, habitações, entre altos edifícios comerciais. Na mesma região, uma torre com mais de 200 metros e 80 andares, centro de gastronomia e lazer. Todos os quarteirões teriam uma praça com uso público ou privado, ao lado de estações do metrô e imóveis tombados. É difícil de acreditar, mas esse cenário pode fazer parte das Avenidas Rio Branco, Duque de Caxias, Ipiranga e Cásper Líbero na Nova Luz.
A nova cara desse quadrilátero faz parte do projeto de um revitalização da a área conhecida como Cracolândia coordenado pela Prefeitura. O próximo passo é a definição de um projeto urbanístico. A Prefeitura não estabelece prazos, mas já começam a surgir opções, como o projeto do urbanista Jaime Lerner, descrito acima.
O modelo de concessão urbanística sancionado ontem servirá como base para a recuperação da área. O instrumento, previsto no plano diretor da cidade, dá o direito de desapropriar imóveis em regiões degradadas em troca de contrapartidas como construção de moradias populares e investimentos em melhorias urbanísticas.
Nesse cenário, construtoras e incorporadoras já demonstram interesse pela região. São nomes como Cyrela, Camargo Corrêa, Gafisa, Klabin Segall, Brascan e Yuny, que trabalham com empreendimentos de todos os segmentos do mercado imobiliário e que vêm participando de conversas com a Prefeitura. Fábio Romano, diretor de incorporação da Yuny, afirma que a ideia é criar um consórcio e apresentar um projeto ao poder público. O objetivo, diz, é que seja o primeiro passo para revitalizar todo o centro da cidade.
Alguns dos principais atrativos da região, com o auxílio de benefícios públicos, são terrenos mais baratos em comparação às regiões mais nobres, fácil acesso à região e a rápida valorização embutida no processo de revitalização, aproveitando a infraestrutura que já existe.
“Há uma série de intenções dos incorporadores, mas não conseguimos fechar a conta de nenhum empreendimento. Para a compra de prédios antigos e demolição de imóveis na área, precisamos não só do apoio do governo, mas também do mercado, que deve criar uma força-tarefa para transformar o local. Se a revitalização realmente ocorrer, vai voltar a ser chique morar no centro”, completa.
Maurílio Scacchetti, diretor de atendimento da Habitcasa, é cauteloso e observa um processo lento de desapropriação. “Enquanto ele não for definido, o mercado não irá colocar um tostão na região. Hoje, quem quer comprar ou investir em um imóvel, ainda tem opções em bairros centrais como Bom Retiro, Liberdade e Barra Funda. Mas, caso a revitalização seja levada a cabo, basta lançar e vender.”
NÚMEROS – 24 quarteirões entre as Avenidas Cásper Líbero, Duque de Caxias, Mauá, Rio Branco e Ipiranga
287 mil m² é área total a ser revitalizada
11 imóveis tombados
750 imóveis a serem desapropriados, em área com 362 mil m² onde vivem 3.500 pessoas