
O caminho do bondinho de Santa Teresa sempre levou a charmosos ateliês escondidos nos apartamentos e no casario antigo de um dos bairros mais encantadores da cidade. Especialmente em eventos como o Arte de Portas Abertas, que chega a sua 21 edição no próximo fim de semana, mantendo a tradição de levar o povo para onde a arte está. A novidade este ano é que os turistas e cariocas que passearem pelas sinuosas ruas de Santa vão perceber um novo polo se formando para a decoração.
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Pertinho do Largo das Neves e do famoso Bar do Gomes de um lado; e dos ateliês de Carlos Vergara e Júlio Castro do outro; a confluência das ruas Aarão Reis, Áurea, Miguel de Resende e Oriente vem atraindo outros artistas e dando cara nova ao local, que já começa a ser chamado, pelos próprios profissionais, de Quartier Oriente. Com um detalhe: ali os ateliês estão bem à mostra, com direito inclusive a grandes vitrines para as ruas.
“Santa Teresa tem áreas de freguesia: no Guimarães está o artesanato, os restaurantes; no Curvelo, tem um conjunto de casas comerciais e aqui, no ramal menos badalado do bonde, há tudo para uma nova área para as artes”, defende o fotógrafo Renan Cepeda, que fala com conhecimento de causa.

Morador do bairro desde que nasceu e um dos únicos a ter participado de todas as edições do Arte de Portas Abertas, ele abriu ano passado o Ateliê Oriente, ao lado dos também fotógrafos Kitty Paranaguá e Thiago Barros, numa casa que já foi laboratório de cinema, padaria e mais recentemente abrigou os ensaios do bloco Céu na Terra. Depois de três anos fechado, o espaço de 72 metros quadrados agora guarda obras dos três em paredes móveis espalhadas pelo galpão, onde também fica o escritório do trio e, vez ou outra, acontecem exposições.
“É um espaço multifacetado. Trabalhamos melhor por ser um lugar mais calmo que o Guimarães, por exemplo. Mas estamos prontos para receber o público mesmo quando não houver exposições. A vitrine faz essa comunicação com a rua, e as pessoas querem saber o que tem aqui”, enfatiza Renan.
Quase um embaixador desta nova freguesia, Cepeda tenta convencer os proprietários locais a alugarem seus espaços para outros artistas (interessados não faltam) e já atraiu para lá a amiga Antonia Dias Leite, que mistura fotografia, vídeos e instalações em seu trabalho. Depois de viver 10 anos em Nova York, ela escolheu Santa Teresa para estabelecer seu ateliê. O local? Uma loja, a poucos passos do Ateliê Oriente, que costumava vender ração. Agora, o piso original de ladrilho hidráulico ajuda a dar o ar moderninho ao ambiente que ganhou tubulação aparente para a fiação elétrica, paredes brancas, um janelão com vista para as favelas e, claro, portas de vidro.

“Não quero ter uma galeria. Este é o meu estúdio, um local de trabalho aberto a acontecimentos artísticos, como os happenings dos anos 60. Estou aqui há um mês, mas já conheço todo mundo da rua. E foi exatamente isso que me trouxe para Santa Teresa: é uma comunidade local, mas também internacional. Aqui, tenho o mesmo tipo de convivência que tinha em Nova York”, diz a artista, que abre oficialmente o seu espaço durante o Arte de Portas Abertas.
Não muito longe dali, na Pascoal Carlos Magno, uma garagem de tijolos aparentes – que já serviu a uma pizzaria – é dividida há um ano e meio pelos ceramistas Dony Gonçalves e Binho Maturano. O primeiro, um veterano do evento; o segundo, um estreante que promete mostrar sua última série, Nonada, em que órgãos humanos e animais se misturam formando peças inusitadas. Além de receber os visitantes, os dois costumam dar aulas:
“É legal ter o ateliê sempre em movimento”, diz Binho.
O Arte de Portas Abertas vai de sexta a domingo próximos, com 80 artistas divididos em 38 ateliês e cinco centros culturais.
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