Em 2002, quando Murat e Sedef Ozturk conheceram aquele pedaço de terra 450 metros acima do nível do Mar Egeu, no vilarejo de Assos, na Turquia – onde Aristóteles viveu por um tempo no século 4 a.C. – , foram subjugados pela paisagem. Ao lado de uma parede de pedra num dos limites da propriedade, o casal podia admirar a extensão infinita de água, o perfil sombreado da ilha de Lesbos e uma colina pedregosa, pontuada por pinheiros, oliveiras e ciprestes.
Abaixo, pastores com casacos de lã e calças largas andavam por sendas com rebanhos de carneiros e ovelhas. O ar cheirava à madeira de oliveira queimada e o silêncio só era quebrado pelo muezim chamando para as orações. Apesar de ser um dia nublado, – os raios de sol atravessavam as nuvens -, lembra Sedef Ozturk, de 44 anos. “Todas as minhas tensões se foram.” Horas depois, ela e Murat compraram o terreno. “Olhamos um para o outro e dissemos, esse é o lugar para construirmos?”, conta Murat, de 46 anos, dono de uma empresa têxtil em Istambul.

Hospedados na casa do amigo Selman Bilal, na vizinhança, eles ficaram impressionados como imóvel, estrutura contemporânea de aço e vidro com grandes janelas. Contrataram Han Tümertekin, arquiteto de Istambul que projetou a casa – conhecida como B2 e pela qual o profissional recebeu o Prêmio Aga Khan de Arquitetura de 2004. O casal pediu uma casa no mesmo modelo, que tirasse o máximo proveito da vista e fosse fácil de manter.
A forma retangular é baseada no design típico das fábricas de azeite da região. Diferentemente de Selman Bilal, que é divorciado e usa a casa como um retiro, os Ozturks queriam a casa para si, os dois filhos e uma porção de amigos. O centro literal e emocional da construção é a cozinha-living. Há uma lareira com painéis deslizantes de vidro nos dois lados, ao redor da qual a família e os convidados podem se acomodar em cestos baixos de lã. Exceto pelo banheiro de hóspedes, todos os cômodos são voltados para o mar. No verão, diz Sedef, “dormimos com as portas abertas”.
Aberto é a palavra mágica da construção. Tümertekin projetou a estrutura de aço, com janelas do chão ao teto em ambas as extremidades, 39 ao todo – cada par de janelas se abre à semelhança de portas francesas. Em Assos, as casas são feitas de pedra ou madeira e têm janelas pequenas. Para a casa dos Osturks, o arquiteto usou a pedra com mão leve. E, em lugar algum, isso é mais aparente que no telhado do pátio.”Vilas turcas, em geral, têm suas próprias pedreiras”, explica Murat.
Um construtor local foi contratado para erguer a casa e artesãos trabalharam com a pedra. O custo da casa ficou em US$ 300mil e o do terreno, em US$ 60 mil.
Inspiração no mar Sedef – misturou móveis modernos com objetos da região, design europeu com itens da Ikea e antiguidades caso da escrivaninha-xerife do século 19 ?, para criar interiores acolhedores, que fazem um blend do rural com o urbano.

À esquerda do fogão, fica uma vitrine de nogueira. Sobre o balcão da cozinha, que tem função de mesa de jantar,um cesto de madeira de oliveira. O balcão é feito de concreto, mas tem uma folha de iroko, madeira africana, que cobre toda a sua extensão. A madeira patinada, às vezes usada para vigas, tem entalhes naturais que dão um aspecto rugoso, texturizado.
Desde o primeiro dia que passou na casa, Murat mantém o hábito de observar o mar antes de decidir o que fazer. “Planejamos o dia de acordo com o vento, ou a nossa vontade”, revela.